Quem viveu o cinema nas décadas 1990 e 2000 testemunhou o processo de dominação geral da computação gráfica no campo dos efeitos especiais. As maquetes, a maquiagem e a animatrônica foram progressivamente substituídas por técnicas cada vez mais sofisticadas de imagens geradas por computador, as famosas CGIs. Basicamente, os defeitos especiais (special effects ou SFX) podem ser classificados em dois tipos principais: práticos (practical effects ou PFX) e visuais (visual effects ou VFX). Os primeiros são realizados durante a filmagem, os segundos são inseridos em pós-produção através de técnicas computacionais. Assim, o que vimos acontecer foi justamente o crescimento da industria de efeitos visuais em detrimento dos efeitos práticos.
As coisas chegaram até o ponto em que, hoje em dia, é comum que metade do orçamento milionário de um blockbuster seja dedicado a estúdios especializados em VFX. Mas nem tudo são flores no mercado de CGIs, que está cada vez mais concorrido. Durante a cerimônia do Oscar 2013, diversos técnicos protestavam do lado de fora da cerimônia contra a exigência hollywoodiana de serviços cada vez mais baratos e massivos. O próprio vencedor da categoria, Rhythm & Hues Studios (responsável pelos VFX de As Aventuras de Pi), havia ironicamente declarado falência algumas semanas antes da premiação.
E o que nós pensamos de tudo isso? Eu, como todo bom nerd oitentista, fiquei inicialmente entusiasmado com todas as possibilidades que a computação gráfica veio a prometer para o cinema. O fato é que mais de 20 anos de monstros, cidades e dubles digitais (blé!) nos mostraram que a coisa fica cada vez menos surpreendente a cada filme. Agora que os VFX viraram lugar comum, nada mais impressiona e cada cena é motivo para encontrarmos falhas e falta de realismo. Cada rosto digitalizado é um motivo a mais para sairmos da imersão que o filme inicialmente propunha. E mesmo aquele filme com o qual ficamos impressionados no cinema ontem, basta comprarmos o Blu-Ray hoje para constatarmos que eles não parecem outra coisa senão cutscenes datadas de videogame (cof-cof… Avatar… cof…).
Não, eu não estou querendo cuspir no prato que comi com muito gosto nas últimas décadas. Só estou querendo dizer que: (1) a minoria dos diretores acerta a mão na hora de usar CGIs, (2) que o trabalho computacional é muito precioso e delicado para ser desperdiçado em toda e qualquer ocasião e (3) que talvez a solução para essa “crise dos estúdios” seja voltarmos a valorizar aquilo que nos satisfez por tantas décadas antes das CGIs dominarem: os efeitos práticos. Um bom modo de começar é entendendo como funcionam os efeitos práticos. Para tanto, recomendo essa entrevista que a Comicbookgirl19 fez com Alec Gillis, ganhador do Oscar e cofundador da Amalgamated Dynamics Inc. É curta e infelizmente ainda não tem legendas em português, mas dá para pegar bem o esquema da coisa:
PS: aliás, você conhece o canal dela no Youtube? Caso não, sugiro que dê uma fuçada, vale a pena!