Jango Drops

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À procura do Batman perfeito…

A preocupante escolha recente de Ben Affleck para interpretar Batman/Wayne nas telonas trouxe à tona mais uma vez aquela série de debates fervorosos que já estamos acostumados a testemunhar (e dos quais adoramos participar) acerca dos problemas das adaptações cinematográficas de quadrinhos. A coisa tem um peso ainda maior em se tratando do Homem-Morcego, tendo em vista a repopularização do personagem na última década graças ao trabalho de Christopher Nolan.

É perfeitamente compreensível que um universo em geral e um personagem em particular, quando adaptados de uma mídia para outra, precisem sofrer modificações para funcionarem em seu novo formato. Qualquer leitor de HQs com um mínimo de maturidade compreende isso e aceita que seus queridos personagens tenham que ser em alguma medida adulterados. Diante disso, muitos resultados são possíveis. Na maioria dos casos o personagem adaptado não fica tão bom quanto o original, mas não chega a desrespeitar o personagem (Thor e Hulk). Em outros ele até alcança o personagem original em qualidade e fidedignidade (Superman [Christopher Reeve] e quase todo mundo em Wathcmen). Em casos raros a versão de cinema até supera em alguns aspectos sua versão em quadrinhos (Iron Man). Às vezes também acontece de o personagem adaptado ficar irritantemente diferente dos quadrinhos, mas bem construído o suficiente para gostarmos dele (Homem-Aranha [Tobey Maguire], Wolverine [na trilogia X-Men]). E nos piores casos o personagem é totalmente desrespeitado e transformado em algo detestável (Lanterna Verde e Espetacular Homem-Aranha [Andrew Garfield]).

Voltando ao Cavaleiro das Trevas e considerando todas essas possibilidades, é fácil perceber que o personagem já praticamente transitou por todas elas. Eu particularmente adoro o batverso do Nolan, mas, por melhor ator que Christian Bale seja, seu Bruce Wayne para mim se encaixa na categoria de ótimo personagem que infelizmente é infiel à sua versão em quadrinhos (se é que é possível falar em UMA versão em quadrinhos para um personagem tão longevo quanto o Batman). Como bom nerd crescido na década de 90, gosto dos filmes de Tim Burton e acredito que Michael Keaton interpreta talvez não o melhor Batman, mas com certeza o melhor Bruce Wayne adaptado PARA CINEMA até então. Enfatizo o “para cinema” porque em outras mídias não me parece que o personagem tenha sofrido tanto. A série animada e os jogos da franquia Arkham, por exemplo, nos apresentaram versões muito satisfatórias do personagem. Juntas com a franquia Nolan, ambas foram importantes para recuperar do público o respeito pelo personagem, que estava completamente desmoralizado depois de ter passado pelas mãos de Joel Schumacher.

E já que tocamos no assunto “Batman pastelão”, o que dizer da serie de TV da década de 60 estrelada por Adam West? Ela certamente ajudou a popularizar uma das piores versões do personagem, tendo por base suas fases mais infantis nas HQs. E por mais carinho que possamos ter por ela (sim, eu tenho), não dá para perdoar seus idealizadores, especialmente tendo em vista que mais de 20 anos antes (isso mesmo, VINTE ANOS antes) o herói já havia sido adaptado de modo totalmente excelente! Pouca gente sabe disso, mas em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, foi lançada uma serie da dupla dinâmica estrelada por Lewis Wilson, com 15 episódios, na qual Batman e Robin enfrentavam o vilão oriental Dr. Daka (criado, por motivos óbvios, para fins politicamente incorretos). O sucesso da série levou à criação de um “nova temporada” alguns anos mais tarde, em 1949, com mais 15 episódios agora estrelados por Robert Lowery, nos quais a dupla enfrentava o vilão Wizard.

Batman (Lewis Wilson) e Robin (Douglas Croft) na série de 1943.

Batman (Lewis Wilson) e Robin (Douglas Croft) na série de 1943.

Segue abaixo link para duas listas de reprodução com ambas as séries completas. Ambas são imperdíveis, mas a temporada de 1949 é ligeiramente superior à de 1943. Muito bem dirigida, ótimos efeitos especiais e um roteiro adulto (com direito a perseguições de carro e tiroteios). Tanto Wilson quanto Lowery incorporam Bruce Wayne de modo consistente e carismático. Depois de assisti-las, tenho certeza de que você se perguntará como foi que um personagem que começou tão bem nas telas pode ter desandado tanto. No fim das contas a moral da história é essa: a longa jornada do Homem-Morcego fora das HQs é uma fonte valiosa de lições acerca de como honrar e desonrar um personagem. Se essas lições forem bem aproveitadas, isto é, se o herói for tratado com o carinho e a inteligência que merece, talvez até mesmo um Batman interpretado por Ben Affleck possa ser satisfatório.

Batman (1943):

http://www.youtube.com/watch?v=hYfPvTxT7kE&list=PL_o4QC_waDQo5G0epN42EaxKTji-bylyQ

Batman & Robin (1949):

http://www.youtube.com/watch?v=8HmPUPlkxbw&list=PL_o4QC_waDQo6qNPI1J1igpmqhuSLflDR

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